Antiga Sé de Bragança


A antiga Sé de Bragança, agora chamada Igreja de São João Batista (também conhecida por Sé Velha), foi a Sé Catedral de Bragança desde a fundação do episcopado de Bragança. Em 2001 foi inaugurada a nova igreja de Nossa Senhora Rainha, com dimensão adequada para funcionar como a Nova Sé Catedral de Bragança.

Antiga Sé de Bragança (Sá Velha)

A igreja da antiga Sé foi, e ainda é, conhecida ao longo dos tempos por diversas designações: Igreja da Sé, Igreja dos Jesuítas, Colégio do Santo Nome de Jesus, Catedral de Bragança, Igreja Paroquial de São João Baptista.

Veja no mapa a localização da Sé Velha de Bragança.

Breve história da Antiga Sé de Bragança

Por acordo entre a câmara e o 5º duque de Bragança Dom Teodósio, decidiu-se contruir um convento de clarissas no sítio chamado de Cruz da Pedra. No entanto, as clarissas nunca aqui viveram – o convento seria colégio e a igreja Sé Episcopal.

Assim, deve-se a fundação da igreja que é hoje sede do bispado de Bragança e Miranda ao povo bragançano e a Dom Teodósio.

Encontrava-se a obra quase concluída em 1561 quando foi entregue pelo município, e com autorização do bispo de Miranda Dom António Pinheiro, à Companhia de Jesus. Era bem conhecido o estado de decadência cultural em que se encontrava grande parte do clero tanto afetava as ações pastorais. Desde 1545, o concílio de Trento estudava as reformas necessárias e urgentes para a igreja.

Num dos decretos aprovados por Pio IV em janeiro de 1564 estabelece-se a criação de colégios, os futuros seminários.

Era essa uma das valências da Companhia de Jesus, ordem aprovada pela Santa Sé há pouco mais de 20 anos. Proporcionar à juventude «ensino de forma orgânica, estável e acessível a todas as classes».

O Colégio de Jesus

De posse da nova casa conventual de Bragança, os Jesuítas fizeram dela o Colégio de Jesus que viria a ser o fulcro da vida religiosa e cultural da diocese durante dois séculos. Nele se lecionaram, com nível universitário, humanidades, filosofia e teologia.

Acabou em setembro de 1759 com uma lei que declarava os Jesuítas «desnaturalizados, proscritos e exterminados», sob acusações de ambiciosos, retrógrados no ensino, opressores da Universidade de Coimbra, entregues ao comércio, réus de lesa-majestade, entre outros.

Na verdade, constituíram um estorvo ao absolutismo do rei e aos planos do Marquês de Pombal, mas além da ingratidão e injustiça flagrantes, a lei da expulsão dos Jesuítas trazia, do mesmo modo, danos gravíssimos para o país.

Três anos depois, o bispo Dom Aleixo de Miranda Henriques transferiu a sede episcopal de Miranda para Bragança, instalando-a provisoriamente na Igreja de São João Batista.

O abandono da Diocese de Miranda

Pediu então ao rei o estabelecimento em Bragança da sé com os seus cónegos, justificando o abandono de Miranda pelos «inconvenientes que resultavam da conservação da igreja catedral daquela cidade, pobre e sem recursos, situada num extremo da diocese e muito danificada pelo exército espanhol no dia 8 de maio de 1762».

Uma carta régia de 1764 autorizou a pretensão de Dom Aleixo. Finalmente, em 10 de julho de 1770, um breve do Papa deferia uma proposta do rei Dom José para a divisão da diocese e duas, Miranda e Bragança.

Entretanto foram doados ao bispo o colégio e a igreja que o Estado expropriara aos Jesuítas. Julga-se não terem sido estranhas à oferta duas pastorais de Dom Aleixo dedicadas a ataques caluniosos aos Jesuítas, gentiliza que o ministro de Dom José agora retribuía.

As dimensões da igreja que servira de capela ao colégio, não correspondiam obviamente à função de Sé, mesmo depois da ampliação do seu comprimento. Foram então efetuadas diligências para que a nova igreja servisse o seu novo propósito.

No entanto, tão boa vontade ficaria apenas pelo projeto, cuidadosamente guardado no Museu do Abade de Baçal, na cidade de Bragança. Faltaram os recursos materiais.

Pouco tempo se manteria a divisão das duas dioceses. Em data próxima à da sua instituição, foram nomeados bispos para ambas. No entanto, um ano após a sua chegada a Miranda, o novo bispo era eleito para Lamego. E o de Bragança, Dom Miguel Barreto de Meneses, acumulava as duas dioceses.

Extinção da diocese de Miranda

Mais tarde, com o consentimento da recentemente coroada rainha Dona Maria I, o bispo Dom Miguel pedia ao Papa a junção das duas dioceses e, para isso, renunciava à de Miranda. Pio VII anuiu; as dioceses uniram-se em 1780 e o seu titular passar-se-ia a chamar Bispo de Bragança e Miranda.

De seguida a diocese passou por um longo período de turbulência. Prisões, desacatos, desterro (1912), perseguições e intromissões inaceitáveis do poder político. Houve de tudo um pouco, com pesadas consequências para a vida religiosa do nordeste transmontano.

Descrição da igreja

A antiga igreja do colégio não foi só aumentada. Foi, no século XVII primordialmente enriquecida com algumas decorações barrocas. No entanto, essas melhorias não eram suficientes para tornar a igreja na sé catedral do bispado de Bragança, com toda a dignidade que a instituição o merece.

Porém, a valia estética é independente do título e das provisões “provisoriamente” impostas (há mais de dois séculos) a este templo. O povo continuar a conhecer este espaço como a Igreja dos Padres Jesuítas.

A frontaria

Na simples frontaria abre-se, para o lado nascente, uma acolhedora galilé toscana e eleva-se a torre sineira. O portal renascentista que dá acesso à igreja tem, em cima do entablamento, um tímpano cavado por um nicho com a imagem de Nossa Senhora e o Menino.

Ao seguirmos a fachada lateral norte, por uma outra porta de arco pleno, em chanfro, entra-se no vestíbulo que permite aceder a outros espaços. Ainda nessa fachada, observamos duas janelas renascentistas e um janelão barroco, datado de1685. Este janelão está fechado por uma grade em ferro forjado. Anteriormente podíamos ainda observar a pedra de armas da Companhia de Jesus no topo do janelão. No entanto, em 1759 esta pedra foi retirada, encontrando-se exposta no Museu do Abade de Baçal.

A nave da igreja é coberta por abóbadas nervadas, possuindo excelentes retábulos de talha seiscentista.

Abóbadas da nave central da igreja Sé Velha

A capela-mor da Sé Velha

A capela-mor é, sem dúvida, onde se concentra a maior riqueza decorativa. A abóbada revive o gótico em nervuras estreladas, com bocetes nos cruzamentos. O retábulo de talha dourada seiscentista é magnífico. E, por fim, nota para o revestimento em lambrins de azulejo policromados, igualmente seiscentistas.

A sacristia

A Sacristia está ricamente decorada com painéis que dividem o teto, emoldurados com talha dourada. Observamos pinturas alusivas à vida de Santo Inácio de Loyola. Ricas talhas douradas revestem as paredes e, sobre o comprido arcaz, enquadram outras pinturas de assinalável qualidade, à frente das quis se alinha diversas peças escultóricas, nomeadamente a de Cristo na Cruz e as de São Francisco de Assis e Santo Inácio.

Sacristia da antiga sé de Bragança
Sacristia da antiga sé

São de notar, de igual modo, as alfaias litúrgicas de sé, de desenho barroco e esplêndido esculpido.

O Claustro da Antiga Sé de Bragança

Duas ordens de colunas estruturam os dois andares do claustro da Antiga Sé de Bragança. No cimeiro, as paredes rasgam-se com janelas geminadas e ladeadas de colunelos. No andar térreo, cada face claustral compõe-se de cinco arcos abatidos, suportados por colunas toscanas. Abrem, na parte do antigo colégio ainda afeta à igreja, para a galeria térrea do claustro algumas salas abobadadas onde funcionavam, até 2001, os serviços apostólicos da sé.

Referências

Miguel Pinto

Sou o editor principal do site Cidades Portuguesas. Adoro explorar todos os pormenores que deram origem à riqueza cultural das povoações portuguesas. Neste site pretendo dar a conhecer as cidades através dos seus monumentos históricos, das suas igrejas, das suas gentes.

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