Igreja da Misericórdia de Chaves


Igreja da Misericórdia de Chaves

Diz-se por aqui, que a Igreja da Misericórdia de Chaves, apesar de ser a mais bela igreja da cidade, não é sede paroquial.

Pormenores do topo da Igreja da Misericórdia de Chaves

O conjunto monumental da Praça de Camões

Erguida no centro histórico da cidade, a Igreja da Misericórdia de Chaves acrescenta um tipo distinto de beleza barroca ao monumental conjunto. A algumas dezenas de metros, a Igreja Matriz de Santa Maria Maior partilha a mesma praça de Camões, como a que foi a antiga casa dos duques de Bragança, transformada depois em quartel, e onde agora se encontra o Museu de Arqueologia e Epigrafia com seu notável recheio. A seguir, o edifício oitocentista do Município com sua capela setecentista; depois, é a magnífica Torre de Menagem edificada pelo rei D. Dinis, a dominar o amplo e belo terreiro do baluarte, construído em plena Guerra da Restauração. Hoje, aprazível lugar de passeio e desfrute tranquilo, mesmo com a presença dos velhos canhões junto dos parapeitos.

A beleza da igreja da Misericórdia

Larga escadaria antecede a Misericórdia, assim alteada e melhor admirada. Construída no século XVI, logo nos atrai a sua original e elegante fachada, cuja articulação arquitetónica revela um apurado sentido de proporções e harmonias.

Duas poderosas pilastras graníticas, capitelizadas, de face frontal riscada de molduras verticais de acentuados perfis, flanqueiam a fachada elevando-se do patamar ao entablamento do segundo andar.

O pórtico abre-se em três vãos terminados em arcos plenos. Encostadas aos quatro robustos pilares, esbeltas colunas salomónicas, assentes em pedestais ornamentados, têm capitéis coríntios sobre os quais emoldurados ressaltos do entablamento dão continuidade aos pedestais das idênticas colunas do segundo andar e também separadoras dos vãos.

Aqui, na prumada dos arcos do pórtico, abrem-se três amplas janelas de sacada, cavadas entre molduração boleada, de belo efeito — antecedem-nas os gradeamentos de parapeito.

Fachada principal da Igreja da Misericórdia de Chaves
Fachada Principal

A verticalidade, marcada desde os pedestais do piso térreo, prossegue nas saliências correspondentes às colunas sobre o volumoso segundo entablamento, terminando, acima da cornija, em coruchéus de bojo lavrado. Por sua vez, as grandes pilastras dos cunhais são encimadas por coruchéus altíssimos e de volumosos bojos lisos, remates audaciosos e algo inesperados numa frontaria toda ela de lavrado requinte e escala bem diversa.

Sobre o tramo central ergue-se faustoso coroamento – uma glória à Misericórdia – ornamentado com volutas, frontão de movimentados lanços, coruchéus; uma bem elevada cruz culmina toda a composição.

Cobre o átrio o coro alto que as três janelas de sacada generosamente iluminam. A nave não é de grandes dimensões, mas de boa proporção, assinalável formosura, decoração condizente com as impressões colhidas na apreciação da fachada, um espaço que prende e tranquiliza.

Os painéis de Azulejos

Constituem um dos seus grandes valores os esplêndidos painéis de azulejos setecentistas, azuis e brancos, que revestem totalmente as paredes dos flancos. Bem elaboradas e bem concebidas composições de paisagens e de clássicas arquiteturas perspetivadas conduzem a atenção para as figurações humanas que representam cenas do Evangelho.

Painéis de Azulejo no interior da Igreja

Duas séries de painéis sobrepostos e um friso de grinaldas e anafados meninos compõem as vastas superfícies azulejadas. Os quadros ilustrativos, de evidente intenção catequética, descrevem impressivamente e com cuidada abundância de pormenores os momentos eleitos para serem bem compreendidos e bem gravados na memória de quem os aprecie.

Fixam diversos milagres narrados pelos Evangelistas, como a primeira intervenção sobrenatural de Jesus Cristo, nas bodas de Caná, e a ressurreição de Lázaro, curas de enfermos, a libertação de pecados — salvação da adúltera, Jesus e a Samaritana -, a exaltação da humildade no Lava-pés, a culminante instituição da Eucaristia na Última Ceia, além de alguma referência ao Antigo Testamento; temas de clara integração no espírito de Misericórdia que presidiu à fundação da Casa e da igreja.

Visão geral dos Painéis de Azulejo

Esta magnífica azulejaria é atribuível à oficina dos Oliveira Bernardes. Famosos mestres da pintura de azulejos, os Oliveira Bernardes foram os grandes impulsionadores de um estilo mais pictórico que o da corrente inspirada nos holandeses, onde o desenho dominava. Embora partissem de um caminho iniciado por Gabriel del Barco, no século XVII, os Oliveira Bernardes souberam dar-lhe, como diz José Meco, «um requinte excecional, através da conjugação de pinceladas, esfumados, manchas e transparências, em que ambos foram mestres».

Outra cena em azulejo no interior

A António Oliveira Bernardes, cuja atividade documentada se situa entre 1699 e 1725, se deve em grande medida a renovação e o prestígio do azulejo português. Três dos seus sete filhos seriam também artistas. Um deles, Policarpo, não só foi seu brilhante continuador como também corresponsável pela justa fama desta arte tão portuguesa.

Disponibilidade e serviço ao próximo são exaltados na pintura que ocupa a zona central do teto — a Visitação. Datada de 1743, é uma obra do pintor Jerónimo da Rocha Braga.

Igualmente do século XVIII, tal como os azulejos e a pintura do teto, é o grandioso retábulo do altar-mor, de talha dourada, composto com toda a exuberância do barroco de tal época. E merece visitar-se ainda a sacristia para admirar as pinturas que encerra. Uma delas sobressai representando uma visão seiscentista do Purgatório, pintada em tábua.

Gastos excessivos com a construção da igreja

Por esses tempos do século XVII, ainda com a obra da igreja por acabar — pelo menos a sua ornamentação interior, que foi bem mais tardia — queixavam-se de ser má a administração da Misericórdia. A tal ponto chegou a falta de meios, que um provedor não teve remédio senão suspender o serviço da enfermaria. E atribuíam–se as culpas pela penúria aos excessivos gastos com a construção da igreja.

Pormenor do Altar da Igreja da Misericórdia
Pormenor do Altar da Igreja da Misericórdia de Chaves

Agora será difícil julgar com rigor se o critério administrativo terá sido o mais correto. No entanto, o empenho em terminar uma construção de vulto e certa pompa — tal como se fazia e continuaria a fazer noutras terras do País — terá pesado sobremaneira na economia da instituição. Mas o o empreendimento fora lançado, e pior seria não o terminar.

Finalmente, concluiu-se a igreja e fez-se o hospital, já no século XIX, graças a toda a espécie de ajudas e a muitos legados recebidos, nomeadamente o da baronesa de Alverca.

A Misericórdia de Chaves

Quando a rainha D. Leonor, viúva de D. João II e então regente do Reino — que muito se notabilizara antes pela proteção dada às artes e às letras -, ordenou a criação das Misericórdias (em 1498) com a eficaz colaboração do seu confessor, Frei Miguel Contreiras, logo definiu claramente os objetivos. Não se tratava apenas de fazer hospitais, mas praticar obras de profundo amor ao próximo.

Seriam confrarias de cristãos e, como tais, conscientes da sua responsabilidade, dispostos a cumprir os preceitos da Misericórdia Divina. Tanto os de natureza espiritual como humana. Os compromissos essenciais dos irmãos que constituem as Misericórdias envolvem mais que a construção e manutenção de hospitais. Envolvem o viver plenamente a caridade.

Portugal inteiro respondeu ao apelo e ao exemplo de D. Leonor. Em 25 anos, dezenas de cidades e vilas tinham já a sua Misericórdia a trabalhar.

A fundação da Misericórdia de Chaves é posterior a 1580. No entanto, encontrava-se a funcionar nos meados do século seguinte, quando edificava a bela igreja da sua confraria.

Localização da Igreja da Misericórdia de Chaves

A Igreja da Misericórdia de Chaves está localizada no centro da cidade, na Praça de Camões, junto a outros pontos de interesse como a Igreja Matriz, a Câmara Municipal de Chaves, o Posto de Turismo, entre outros.

Ver localização no Google Maps

Para mais informações sobre esta igreja poderá contactar a Misericórdia de Chaves, localizada na Praça Caetano Ferreira (mesmo ao lado da Praça de Camões), pelo telefone +351276333122.

Consulte o nosso artigo sobre a cidade de Chaves para conhecer mais monumentos e pontos de interesse desta bela cidade.

Referências

As descrições da Igreja da Misericórdia de Chaves foram adaptados de um excerto do livro As Mais Belas Igrejas de Portugal, Volume I da Editorial Verbo, com textos de Júlio Gil e fotografias de Nuno Calvet.

Foram também consultados as seguintes páginas:

Miguel Pinto

Sou o editor principal do site Cidades Portuguesas. Adoro explorar todos os pormenores que deram origem à riqueza cultural das povoações portuguesas. Neste site pretendo dar a conhecer as cidades através dos seus monumentos históricos, das suas igrejas, das suas gentes.

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