A Sé Nova de Coimbra é atual sede da diocese de Coimbra (desde 1772), do Arciprestado de Coimbra Urbana e da paróquia da Sé Nova. Teve origem na igreja do Colégio Jesuíta (Colégio das Onze Mil Virgens), fundado em 1542 pela Companhia de Jesus. Para saber mais sobre a cidade de Coimbra consulte o nosso guia.
História da Igreja da Sé Nova
À sombra de catedrais, mosteiros e colegiadas, fundaram-se as primeiras escolas portuguesas, em princípio destinadas à formação do clero, muitas tornadas públicas depois, dando preferência a estudantes pobres. Também numerosos párocos ministravam ensino de primeiras letras a par da instrução doutrinal. Viria acrescentar-se a esta obra da Igreja, no século XVI, o profícuo labor da Companhia de Jesus. O fundador Santo Inácio de Loyola entendia dever alicerçar-se no estudo a tarefa de «ajudar as almas» e logo deu exemplo começando a estudar latim aos 35 anos e filosofia, obtendo graus académicos.
D. João III e o interesse pelos Jesuítas
Desde o início, a Companhia de Jesus despertara o interesse de D. João III que desejava obter a colaboração dos seus padres em Portugal e nas Índias. Os quatro primeiros jesuítas residentes em Lisboa – o grande-apóstolo do Oriente, Francisco Xavier, era um deles – desenvolveriam tal atividade religiosa e como auxiliares no hospital, que o povo os conhecia por «apóstolos».
Em 1541, o rei quis fundar um colégio cm Coimbra, junto à universidade, para a Companhia de Jesus. E com a proteção real — por isso mesmo suscitando inúmeras rivalidades — o colégio dos Jesuítas prestigiou-se extraordinariamente pela qualidade do seu ensino ministrado por professores de fama internacional, como Pedro da Fonseca e Francisco Suárez.
Entretanto, o Colégio das Artes, fundado também pelo rei em 1547, vivia de tal forma entre difamações, intrigas e escândalos, envolvendo mestres e alunos, que seria entregue aos Jesuítas em 1555.
Dedicado, um à formação sacerdotal e missionária, o outro aos preparatórios universitários, os dois grandes colégios passaram à posse da universidade em 1772, treze anos após a expulsão dos Jesuítas- acusados, entre outros fabulosos crimes, de levantarem obstáculos à cultura…
Elevação a Sé Episcopal
O Marquês de Pombal decretou a entrega à diocese da Igreja do Colégio que foi elevada a sé episcopal. Governava então o bispado um coadjutor, pois o bispo D. Miguel da Anunciação jazia numa masmorra – inocente e em condições miseráveis – à ordem do marquês. Foi libertado em 1777, três dias antes da morte de D. José.
Numa carta a seu filho, o Marquês de Pombal dizia que se limitara a executar ordens do rei e que apresentara desculpas e a sua muita consideração ao bispo de Coimbra, já livre de algemas.
Sé Nova, passaram a chamar à igreja dos Jesuítas.
Caraterísticas da Igreja
Simplicidade quase severa, limitada decoração, funcionalidade, marcavam as igrejas de nave única onde a atenção era conduzida ao altar-mor, e o púlpito e o confessionário alcançavam nova importância. Estes princípios, inspirados pela pastoral da chamada Contra-Reforma – e que pouco implicavam com o estilo arquitetónico – tiveram como grandes difusores os Jesuítas, seguidos por outras ordens religiosas e em igrejas paroquiais.
Naturalmente, a austeridade do nosso maneirismo, este «estilo chão» que se quadrava bem com esse espírito e objetivos pastorais, constituiu-se barreira à afirmação do barroco português que só pouco a pouco ganharia sítio — e ganhou, todo.
Obras a cargo do arquiteto arquiteto Baltazar Álvares
Para as suas mais importantes obras ao finalizar o século XVI, a Companhia de Jesus encarregou os projetos ao arquiteto Baltazar Álvares que estudara em Itália e colaborara com seu tio Afonso Álvares, arquiteto régio, e com Filipe Terzi.
E a Baltazar Álvares foi entregue o risco desta Igreja do Colégio das Onze Mil Virgens. Realizou uma obra de excelente arquitetura maneirista, iniciada em 1598.
Frontaria sóbria e elegante
Situou-se a igreja como centro do conjunto de edifícios colegiais, logicamente. A frontaria, sóbria, elegante — prejudicada pela posterior inserção das duas torres sineiras, embora recuadas — é de modelares proporções, profundamente estudadas por Nogueira Gonçalves revelando o esquema geométrico que subordina as grandes linhas compositivas e articula os seus elementos.
Insere-se num quadrado – e de aí um menor desenvolvimento em altura do que era então entre nós -, dividido pela saliente cornija do entablamento sobreposto ao corpo inferior cuja avantajada largura se atenua, na aparência, com altas pilastras que formam cinco setores parietais intermédios.
Nos três setores centrais, as portas da igreja – a axial bem mais alta – abrem-se sobre amplo patamar poligonal a que dá acesso uma escadaria. Acima das portas, três janelas; nos setores laterais, nichos com quatro estátuas de santos jesuítas – dois de cada lado – que enquadravam a principal, de Santo Inácio de Loyola, colocada onde está agora a grande janela do eixo. A alteração prejudicou claramente a composição e a beleza da fachada sem lhe trazer qualquer benefício, pois o resultante acrescento de luz era desnecessário na já tão rasgada face meridional; mas deve-se à abusiva ordem do Marquês de Pombal a quem perturbaria demasiado a simples vista da imagem. E a ordem seria imediatamente cumprida.
Corpo superior a sugerir verticalidade
No corpo superior, insiste-se na sugestão de verticalidade, mediante três sectores separados por pares de pilastras jónicas de fustes cavados, rematados por frontões. O do meio, alteado e curvo, serve de pedestal à esbelta cruz. Os laterais interrompem–se com agudos pináculos. Cinco janelas tornam mais leve este elegante corpo superior que ostenta ao centro, sobre o janelão, as armas do reino ornamentadas sumptuosamente.
De um e outro lado o corpo superior reduz-se a bem desenhadas aletas com volutas terminais quase a tocar altas estátuas de S. Pedro e S. Paulo.
Também sóbrio e funcional, o interior da Sé Nova demonstra o talento de Baltazar Álvares para compor um espaço arquitetónico com elegância e uma feliz relação de formas e dimensões; conteve a altura da ampla nave – condicionante das proporções da fachada -, aconchegando o espaço e diminuindo os possíveis efeitos de frieza do branco calcário trabalhado com austera molduração classicista.
Em síntese, o interior ergue de uma planta em cruz latina a nave com capelas laterais intercomunicantes, braços do transepto limitados à largura das capelas laterais, capela-mor retangular – de profundidade muito aumentada posteriormente -, abóbadas de berço reticuladas, cúpula hemisférica também em caixotões sobre o cruzeiro rematada por lanternim, coro alto no primeiro setor da nave.
Generosa luz entra pelas janelas da frontaria e pelos largos janelões do transepto, a nascente e poente.
As esculturas no interior
Importante núcleo de escultura enriquece a bela capela-mor barroca, realizada no reinado de D. Pedro II, fins do século XVII. No monumental retábulo de talha dourada, com colunas torsas engalanadas por videiras, inserem-se estátuas de grandes jesuítas da era quinhentista. São eles Santo Inácio, São Francisco Xavier, São Francisco de Borja e finalmente Santo Estanislau Kostka. Ao centro podemos encontrar o Presépio, em pintura seiscentista, e o trono laminado em prata, que os franceses invasores trataram de mutilar. Veio da Sé Velha o magnífico cadeiral, seicentista, com pinturas e espaldar de talha dourada, colocado ao longo das paredes laterais da capela-mor.
Dois outros grandes retábulos de caraterísticas semelhantes e da mesma época, enobrecem os topos do transepto enaltecendo a Assunção da Virgem e a Sagrada Família. Mais pequenos, mas igualmente belos, são os retábulos que ladeiam o arco triunfal.
Retábulos com pinturas
Pelos altares da nave distribuem-se também notáveis retábulos que integram esculturas e pinturas de valor, na sua maior parte seiscentistas. Por exemplo, Nossa Senhora das Neves (já setecentista), São Tomás de Vilanova, Santíssimo Sacramento, Santo Inácio, Santo António…
Um espetacular guarda-vento, de talha setecentista, protege a entrada da sé. À esquerda, o Batistério ostenta a belíssima pia batismal manuelina, octogonal, assente em quatro leões. Esta é uma obra dos irmãos Pêro e Filipe Henriques, por encomenda do bispo Dom Jorge de Almeida para a Sé Velha, de onde veio.
Localização da Sé Nova
A igreja da Sé Nova de Coimbra está localizada no Largo da Feira dos Estudantes. É mesmo no centro da cidade de Coimbra, em frente à Faculdade de Medicina (Universidade de Coimbra). Ver no Google Maps.
Poderá visitar esta igreja de terça-feira a sábado entre as 9:00h e as 12:00h (manhã) ou à tarde, entre as 14:00h e as 18:00h.
Classificação da Direção Geral do Património Cultural
Designação: Sé de Coimbra
Outras Designações: Sé Nova de Coimbra / Colégio de Jesus / Colégio dos Jesuítas / Igreja das Onze Mil Virgens / Colégio do Santíssimo Nome de Jesus / Catedral de Coimbra / Igreja Paroquial da Sé Nova / Museus da Universidade de Coimbra (Ver Ficha em www.monumentos.gov.pt)
Tipologia: Arquitetura Religiosa / Sé, Catedral
Proteção: Categoria: MN – Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910
Referências e bibliografia
- Câmara Municipal de Coimbra – Sé Nova | Colégio de Jesus
- Ficha do Monumento SIPA – Colégio do Santíssimo Nome de Jesus / Igreja das Onze Mil Virgens / Catedral de Coimbra / Sé Nova de Coimbra
- As Mais Belas Igrejas de Portugal, Vol. I, Júlio Gil, Edições Verbo
- Fotografias (licenças Creative Commons):
- Fachada principal: editada a partir de fotografia de Concierge.2C, CC BY-SA 3.0
- Interior: editada a partir de fotografia de Manuelvbotelho, CC BY-SA 4.0
- Painés laterais (pinturas): editada a partir de fotografia de Manuelvbotelho, CC BY-SA 4.0
- Altar lateral:
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