O Convento de Mafra é um dos mais belos conjuntos monumentais portugueses. Surge assim como uma impressionante afirmação do poder absoluto do império português.
Neste artigo:
- A construção do Convento de Mafra
- Descrição do conjunto monumental
- Visitar o Palácio, Basílica e Biblioteca
- Bibliografia e referências externas
A Construção do Convento de Mafra
Dom João V escolheu o Alto da Vela, a nascente da Vila de Mafra e concedeu a licença régia para a construção de um pequeno mosteiro de treze frades.
Consultaram-se vários arquitetos tendo agradado particularmente ao rei o projeto de João Frederico Ludovice.
Luduvice, na Alemanha, dedicara-se à ourivesaria, fundição de metais e engenharia militar, até migrar para Itália onde se casou, convertendo-se ao catolicismo. Foi também em Itália onde dominou a arte de esculpir imagens santas, encomendadas pela Igreja Católica.
Em 1700, chega a Portugal contratado pelos Jesuítas como ourives por um período de sete anos. No entanto, durante esse período, apaixonado pela arquitetura e municiado pelos conhecimentos adquiridos em Itália, começa a aceitar diversas obras.
A cerimónia da primeira pedra do Convento de Mafra
A primeira pedra foi simbolicamente colocada no dia 17 de novembro de 1717. Ergueu-se uma pequena igreja de madeira, apenas para as celebrações da cerimónia. Dois vidrinhos de óleo santo, a escritura real e doze medalhas, foram colocados em caixas de ouro que, por sua vez, foram colocadas em arca de mármore. Sobre esta arca colocou-se uma grande pedra e, sobre ela, o esmoler-mor, lançou 12 moedas, todas as que estavam em circulação à época, desde as de ouro, às de real e meio.
«Era, enfim, o arranque da obra do Convento de Mafra, sonhado e rogado desde o primeiro quartel do século XVII pelos Arrábidos, Franciscanos Reformados, cuja espiritualidade se baseava na ascese e na pobreza penitente; viriam a criar e a notabilizar neste convento escolas de Teologia, Filosofia e Música Eclesiástica.» (in As Mais Belas Igrejas de Portugal, Júlio Gil)
A construção do convento
Com o avançar das obras de construção do convento, avançava também o entusiasmo de Dom João V. Alterava os planos iniciais com frequência que, da lotação inicial de treze frades, passou para quarenta, depois para oitenta e, por fim, terminou com uma lotação de trezentos frades.
Quis também Dom João V que se construísse um Palácio Real, corte e patriarcado. Com tantas alterações as obras iriam, certamente, arrastar-se por muitos anos.
Em 1728 chegou a ordem do acrescento da lotação de 80 para 300 frades. No entanto, a igreja já estava praticamente concluída e não foi possível ampliá-la.
O Convento de Mafra foi sofrendo diversas alterações, acabando num imenso e majestoso edifício de 40.000 m2, com todas as dependências necessárias à vida quotidina de trezentos frades da Ordem de São Francisco.
A grandiosidade do mestre Ludovice
Dourado de líquenes, o grandioso monumento expõe a formação germânica e italiana de Ludovice e a dos mestres romanos que terão colaborado na solução final. No entanto, são também evidentes as influências portuguesas, como a adoção de algumas soluções arquitetónicas tradicionais do sul do país.
A sumptuosa sagração da basílica realizou-se em 22 de outubro de 1730, dia do 41º aniversário do rei. Dom João V exigira essa data dois anos antes o que, com as obras ainda atrasadas, obrigaram a uma verdadeira “campanha nacional” no que diz respeito ao número de homens e recursos envolvidos.
Aos portugueses juntavam-se assim artistas e artífices de diversas partes do mundo. Chegavam, da mesma forma, peças já prontas – sinos de Antuérpia, estátuas de Roma, paramentos da Flandres.
Escola de Escultura
Esta grandiosa obra deu origem à primeira escola de escultura em Portugal. Foi desta escola que saíram sobretudo os mais famosos escultores portugueses do século XVIII.
Mas a verdadeira escola era toda a obra. E não só de escultores. Arquitetos, pintores e artistas de todas as artes e ofícios conhecidos viriam a influenciar, de alguma forma, aquilo que se produziu em termos artísticos e arquitetónicos em Portugal a partir daí.
O projeto inicial para o Real Convento de Mafra estava concebido para alojar apenas treze frades. Foi sofrendo diversas alterações e acabou, desse modo, num imenso e majestoso edifício de 40.000 m2, com todas as dependências necessárias à vida quotidina de trezentos frades da Ordem de São Francisco.
Dom João V pretendia que os Frades garantissem o sustento do convento e, para isso, fazia ofertas duas vezes por ano, no Natal e no dia de São João. Essas ofertas eram primordialmente em espécie: tabaco, papel, pano de linho e burel, etc. O Convento tinha horta e pomar, vários tanques de água, assim como diversos campos de jogos.
O convento foi ocupado pelas tropas francesas e depois pelas inglesas na épocas das guerras peninsulares. Após a extinção das ordens religiosoas, o edifício foi apropriado pelo estado tendo sido, por isso, a sede de diversos regimentos militares.
Atualmente, e desde 1890, é a sede da Escola Prática de Infantaria.
Descrição do conjunto monumental
Conjunto arquitetónico barroco, de matriz italiana, constituído por palácio real, basílica e convento franciscano. A obra decorreu ininterruptamente entre 1717 e 1744, por iniciativa e sob estreita supervisão de Dom João V (1689 – 1750). O projeto original foi do arquiteto João Frederico Ludovice (1673 – 1752) embora tivesse contado com projetos parciais, elaborados no decorrer da obra, como forma de responder aos sucessivos aumentos.
O conjunto apresenta planta poligonal, e é composto pela articulação de vários módulos. Os módulos têm, na sua maioria, quatro pisos, o último dos quais em mansarda. Formam, dessa forma, uma grande massa quadrangular criada a partir da justaposição de dois grandes corpos retangulares. Por sua vez, estes corpos estão organizados em torno de claustros centrais quadrangulares, dois no corpo principal e um no corpo secundário.
Fachada Principal
A fachada principal está orientada a ocidente e desenvolve-se numa extensão total de 220 metros. É rematada por duas grandes torres monumentais, certamente influênciadas por aquela que Filipo Terzi havia desenhado para o Paço da Ribeira em Lisboa, símbolo omnipresente do poder real. As imponentes fachadas palacianas apresentam, inegavelmente, características de um barroco contido, característico dos trabalho de Ludovice, de influência italiana.
Ao centro, a fachada da basílica, monumental, observa assim uma cuidadosa interpretação das ordens: a toscana nas colunas de acesso à galilé, a compósita da fachada da igreja e a ladear o portal de acesso. As torres sineiras, altas, elegantes e com um dinamismo que lhe é transmitido sobretudo pelo jogo de côncavo/convexo, a cúpula e o lanternim denotam um barroco de influência borrominiana.
Interior do Paço Real
O interior do Paço Real apresenta uma funcionalidade de organização vertical, cozinhas na cave, dispensas e ucherias no piso térreo, segundo piso para os camaristas e membros da corte, piso nobre para a fmília real, e mansarda para os criados. Dessa forma, as salas ocidentais do andar nobre estavam reservadas às funções sociais, os torreões aos aposentos privados e as alas norte e sul à vivência quotidiana. Por fim, encontravam-se os aposentos dos infantes.
A Basílica
A basílica apresenta planta em cruz latina com os braços e a abside em semicírculo, composta por galilé retangular. É, assim, uma nave única, com seis capelas laterais retabulares, profundas, intercomunicantes, transepto saliente servido de duas capelas retabulares, duas capelas absidais, também retabulares, e capela-mor profunda.
Na sua volumetria destaca-se, sem dúvida, o zimbório que se levanta sobre tambor vazado por oito janelas, com molduras profusamente trabalhadas e a grande cúpula.
Ricamente decorada, a igreja apresenta-se como um “templo todo de mármore”. Este material está presente na cobertura da nave, em abóbada de berço, rosa, preta e branca, no cruzeiro e cúpula do zimbório, nas colunas e arcos de acesso às capelas laterais, bem como na capela-mor e capelas do transepto. A mármore está, da mesma forma, presente no pavimento, de calcário rosa, preto e branco, formando elementos florais estilizados; nos retábulos, feitos à romana e, por fim, nas 52 estátuas de vulto de encomenda italiana. Ao mármore aliam-se os metais e as telas com pintura a óleo. Toda a decoração da basílica foi cuidadosamente encomendada e elaborada para o local, onde só se empregaram materiais nobres. É digno de nota a ausência total de talha dourada, uma vez que seria tão usual no barroco joanino nacional.
Sacristia
A sacristia e a sala dos lavabos já estão localizadas no espaço conventual. No entanto, apresentam-se ao serviço do templo. As suas caraterísticas permitem a sua atribuição a Mateus Vicente de Oliveira (1705-1786). A existência de arcos contracurvados em falsas janelas, os frontões interrompidos por pilastras que se erguem até à cimalha, ou as molduras de toros encurvados, são provas disso mesmo.
O Convento
O espaço do convento propriamente dito desenvolve-se em torno de um grande claustro, o jardim de buxo. Destaca-se a sua botica, enfermarias, o Campo Santo e a sua capela, o corredor das aulas e a Sala dos Atos Literários, para além do grande refeitório, e da elegante Sala do Capítulo, abobadada, de forma elíptica.
No entanto, na área conventual, o principal destaque vai para magnifica biblioteca, a Real Livraria de Mafra, desenhada por Manuel Caetano de Sousa (1738-1802), com planta em cruz latina, cobertura de caixotões em mármore branco, pavimento em mármore axadrezado rosa, preto e branco, e com elegantes estantes rococó em talha branca.
Hospital dos Monges
Hospital dos Monges era o nome dado à enfermaria destinada aos doentes graves. Era, da mesma forma, conhecido por Casas da Enfermaria do Convento de Mafra.
Os doentes eram aqui assistidos por frades-enfermeiros, recebendo a visita diária do médico e do sangrador. Sobre cada cama fixava-se a receita deixada pelo o médico para que, dessa forma, o doente soubesse se o enfermeiro seguia correctamente as suas instruções. Daqui sai uma escada para o Campo Santo, com o fim de fazer descer por aqui aqueles que não resistiam à doença.
As camas ficavam viradas para o altar, ao fundo da sala, para que os doentes pudessem assistir à celebração da missa.
Visitar o Convento de Mafra
Visitar o Convento de Mafra é, sem dúvida, algo único. As singularidades aqui vivenciáveis não têm paralelo em qualquer outro local: um complexo Hospitalar do século XVIII, dois Carrilhões monumentais do século XVIII, um conjunto (único) de Seis Órgãos de tubos e uma das que, por muitos, é considerada como sendo a mais bonita Biblioteca histórica do mundo configuram este património que, na sua génese, é um Convento franciscano, um Palácio do Rei, um Palácio da Rainha, uma Biblioteca, uma Basílica e, por fim, uma Tapada.
Horário de abertura ao público
Palácio e Biblioteca: Todos os dias, excepto 3ª feiras – 09h30/17h30 (última entrada 16h45)
Basílica: Todos os dias, excepto 3ª feiras – 09h30/13h00 – 14h00/17h30
Dias de Encerramento: Terças-feiras e nos dias 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de Maio, Quinta-feira da Ascensão/Espiga (Feriado Municipal) e 25 de Dezembro.
Irá encontrar certamente estacionamento livre na zona exterior do monumento, nas fachadas norte e sul.
Entrada Gratuita
O bilhete normal para o circuito completo custa 6€ por pessoa (em julho de 2021).
No entanto, o Convento de Mafra poderá ser vistado gratuitamente por todos aqueles que tenham residência oficial em Portugal aos Domingos e Feriados. e, todos os dias, por crianças até aos 12 anos.
Mapa e localização
O Convento de Mafra está situado no Terreiro Dom João V, no concelho de Mafra, distrito de Lisboa.
Bibliografia e referências externas
- Relação da Magnífica Obra de Mafra, Manuscrito da Livraria, 1733-35
- As Mais Belas Igrejas de Portugal, Volume II, Júlio Gil, Edições Verbo
- Site oficial do Palácio Nacional de Mafra
- Ficha do Convento e Basílica de Mafra SIPA – Direção-geral do Património Arquitetónico
O que visitar a seguir
Ao vir de Mafra em direção a Lisboa, as recomendações que se impõem são, sem dúvida, o Palácio da Pena em Sintra e o Palácio de Queluz. No entanto, se a sua direção for o Norte, e se pretender continuar na senda dos Mosteiros e Conventos de Portugal, o Mosteiro de Alcobaça parece uma excelente opção.
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